A espetacularização da morte e a reprodução da irrecuperabilidade penal em comentários de um site de notícias

Authors

  • Gabrielle REICHELT Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) https://orcid.org/0000-0002-7959-9735
  • Lutiane de LARA Centro Universitário Metodista do Sul (IPA)

DOI:

https://doi.org/10.21674/2448-0479.52.105-112

Keywords:

espetacularização da morte, sistema prisional, punição, vingança

Abstract

O presente trabalho busca entender como os discursos, que envolvem morte ou violência como solução, endossam a lógica da punição enquanto vingança, presente na relação sociedade/sistema prisional a fim de elucidar como se compõem os modos de perceber e falar os fenômenos de criminalização dessa população. Para tanto, parte-se de um estudo genealógico, por meio do projeto de extensão Observatório de Juventudes em Situação de Prisão, da instituição de ensino Centro Universitário Metodista do IPA, realizado na Cadeia Pública de Porto Alegre, junto à análise dos comentários do site G1 - Portal de notícias, da Globo, relacionados ao campo penal. Assim, delimitou-se três eixos de análise: Do Passado ao Presente: reatualizações do direito penal, Cristalização de uma Identidade: uma quebra necessária e Sociedade do Espetáculo, que juntos denunciam a produção da opinião pública, por meio do território digital da mídia, que identifica o criminoso como um problema social independente, criando o território da delinquência. Com isso, os jogos de força passam a incitar a disseminação de um sistema vingativo entendido como útil para a manutenção estatal de um sistema punitivista. A “espetacularização da morte” caracteriza assim uma delinquência que foi cristalizada permitindo o controle sobre a vida ao colocar tanto o sujeito da imagem, quanto o que a vê, em um papel passivo, repetindo circuitos e ressentindo. O crime opera como ação política de governo da vida, que necessita da crise para atuar gerindo a vida e a forma como nos relacionamos em sociedade.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Gabrielle REICHELT, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Psicóloga. Especializanda em Saúde Mental e Redes de Atenção Psicossocial (UNISINOS).

Lutiane de LARA, Centro Universitário Metodista do Sul (IPA)

Doutora em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Metodista do Sul - IPA, Coordenadora do Observatório de Juventudes em Situação de Prisão.

References

ALLIEZ, Éric. Deleuze filosofia virtual. São Paulo: Editora 34, 1996.

CANDIOTTO, Cesar. Disciplina e Segurança em Michel Foucault: a normalização e a regulação da delinquência. Psicol. Soc., Florianópolis, v. 24, p. 18-24, 2012.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasília). Parecer técnico sobre a atuação do psicólogo no âmbito do sistema prisional e a suspensão da resolução CFP N. 012/2011. 2016. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2016/04/PARECER-TÉCNICO-SOBRE-A-ATUAÇÃO-DO-PSICÓLOGO-NO-SISTEMA-PRISIONAL-E-A-SUSPENSÃO-DA-RESOLUÇÃO-CFP-N.-12-2011-VERSÃO-FINAL-TIMBRADO-1.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2018.

DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: 34, 1992.

______. Lógica do Sentido. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fontes. São Paulo: Perspectiva, 2007.

ERDELYI, Maria Fernanda. Brasil dobra número de presos em 11 anos, diz levantamento: de 726 mil detentos, 40% não foram julgados. 2017. Comentário 06, 17, 18. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/brasil-dobra-numero-de-presos-em-11-anos-diz-levantamento-de-720-mil-detentos-40-nao-foram-julgados.ghtml>. Acesso em: 11 jun. 2018.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

______. Microfísica do Poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

______. Vigiar e punir. 5. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

G1. 78% das mortes têm relação com o tráfico de drogas, diz secretária de Segurança do RN. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/78-das-mortes-tem-relacao-com-o-trafico-de-drogas-diz-secretaria-de-seguranca-do-rn.ghtml>. Acesso em: 11 jun. 2018.

______. Justiça do RS ordena ida de presos em ônibus e delegacias para presídios. 2017. Comentários 08, 09, 10 e 11. Disponível em: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2017/02/justica-do-rs-ordena-ida-de-presos-em-onibus-e-delegacias-para-presidios.html>. Acesso em: 11 jun. 2018.

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Magna Carta e Quarto Concílio de Latrão: 800 anos depois dois caminhos diferentes ainda orientam o presente e o futuro do processo penal brasileiro. Gazeta do Povo. 2015. Disponível em: >https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-e-direito/colunistas/rodrigo-chemim-guimaraes/magna-carta-e-quarto-concilio-de-latrao-800-anos-depois-dois-caminhos-diferentes-ainda-orientam-o-presente-e-o-futuro-do-processo-penal-brasileiro-4v0b7wfwyf3jvens43zm92k5w/<. Acesso em Setembro de 2018.

HENRIQUES, Camila; GONÇALVES, Suelen; SEVERIANO, Adneison. Rebelião em presídio chega ao fim com 56 mortes, diz governo do AM. 2017. Comentários 4, 7, 18. Disponível em: <http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/rebeliao-no-compaj-chega-ao-fim-com-mais-de-50-mortes-diz-ssp-am.html>. Acesso em: 11 jun. 2018.

INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Democracia e pós-ideologia se elidem: Entrevista com Giorgio Agamben. 2008. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/12818-democracia-e-posideologia-se-elidem-entrevista-com-giorgio-agamben>. Acesso em: 11 jun. 2018.

KEHL, Maria Rita. Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

MANSO, Bruno Paes. Núcleo de Estudos da Violência da USP. Por dentro da engrenagem dos homicídios no Brasil. 2017. Comentário 5. Disponível em: <https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/por-dentro-da-engrenagem-dos-homicidios-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 11 jun. 2018.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma Polêmica. Tradução de: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

______. A Gaia Ciência. Tradução de: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

PRADO FILHO, Kleber. Uma breve genealogia das práticas jurídicas no ocidente. Psicol. Soc., Minas Gerais, v. 24, p. 104-111, 2012.

RODRIGUES, Renta. As faces do Positivismo Criminológico: O criminoso nato de Lombroso e a sua correlação com o conto “O Alienista” de Machado de Assis. Âmbito jurídico. 2013. Disponível em: >http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13301<. Acesso em Setembro de 2018.

ROJO, R.; SCHNEUWLY, B. As relações oral/escrita nos gêneros orais formais e públicos: o caso da conferência acadêmica. Linguagem em (Dis)curso - LemD, Tubarão, v. 6, n. 3, p. 463-493, set./dez. 2006.

SILVA, L. N. et al. Manual de trabalhos acadêmicos e científicos da UERGS: orientações práticas à comunidade universitária da UERGS. Porto Alegre: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, 2013.

SOUZA, R. S. A normose acadêmica. In: NASCIMENTO, L. F. M. (Org). Lia, mas não escrevia: contos, crônicos e poesia. Porto Alegre: [S.n.], 2014.

Published

2019-08-07

How to Cite

REICHELT, G., & LARA, L. de. (2019). A espetacularização da morte e a reprodução da irrecuperabilidade penal em comentários de um site de notícias. Revista Eletrônica Científica Da UERGS , 5(2), 105–112. https://doi.org/10.21674/2448-0479.52.105-112

Issue

Section

N. Especial: Ciências Humanas e Sociais